Resenha: Caçadores de Luz - Histórias de Fotojornalismo



A arte da fotografia tem várias faces. O fotojornalismo é um das mais atraentes.
Fotografar um acontecimento é fazer história, eternizando um olhar que ficará registrado em quem viveu aquele momento e que será referência para as gerações futuras.
Mas qual a história por trás de cada foto? Os “Caçadores de Luz”, os irmãos Alan, Lula e Sérgio Marques narram com riqueza de detalhes todo o contexto e os detalhes das suas principais fotografias, publicadas nos principais jornais do país.
São registros da Guerra de Angola, de desastres aéreos, do cotidiano dos presidentes Sarney, Collor, FHC e Lula, do voo de Senna, enfim, momentos que marcaram a história recente do Brasil.
Uma aula de fotojornalismo e um rico relato dos bastidores das coberturas jornalísticas, mas acima de tudo, um ótimo livro de aventuras.
Título: Caçadores de Luz
Subtítulo: Histórias de Fotojornalismo
Autor: Alan Marques, Lula Marques e Sérgio Marques
Editora: Publifolha
Edição: 1a. edição, 2008
Idioma: Português
Número de páginas: 240 páginas

Pinheirinho destruído


Tenho sido nos últimos anos o Papai Noel de uma escola municipal de educação infantil de um bairro próximo ao Pinheirinho, em São José dos Campos. Os presentes são doados por moradores de um condomínio: bonecas para meninas e carrinhos para meninos, com boa qualidade.
A emoção de sentir o abraço das crianças compensa a dificuldade de transpirar embaixo da roupa, peruca e barba, sempre num dia muito quente de dezembro. Dá para sentir o coração delas batendo muito forte no peito, uma sensação que ninguém fica indiferente.
Pedem por um brinquedo mais sofisticado: um carrinho de controle remoto, uma pista de carrinhos, uma boneca que faz xixi, uma bicicleta. Pior, pedem mais um presente para o irmãozinho, um desejo impossível porque todos os presentes são contados de acordo com a quantidade de alunos.
O que responder? Digo que o Papai Noel irá visitá-los, levando outros presentes. Quero acreditar que isso irá acontecer, mas sei que estou criando uma desilusão. Tremo ao imaginar sua reação no Natal, ao perceberem que o Papai Noel as esqueceu.
No último domingo cerca de 2000 policiais invadiram o bairro em que nasceram e as expulsaram de casa. Não quero avaliar as razões dos lados.
Imagino cada rostinho com um olhar atônito, perdido, sem entender o que está acontecendo, arrastado pelas mãos nervosas de uma mãe desesperada, fugindo das balas de borracha e das bombas de efeito moral. A lembrança dos corações acelerados me atormenta.
Daqui a alguns anos, como estarão esses meninos e meninas que poucos dias depois do natal viram o seu Pinheirinho destruído?

Bruno Senna na Williams


Não sei se comemoro ou lamento a ida de Bruno Senna para a Williams. O histórico da equipe todos conhecem, uma tradição de vitórias. Mas sejamos francos, atualmente a Williams é pouco competitiva.
Sem patrocínios importantes, sem inovações técnicas e um carro do ano passado que teve um desempenho ruim, não dá para esperar muita coisa além do novo motor Renault que equipará os carros neste ano.
Bruno é um bom piloto, mas já mostrou que não é gênio como foi seu tio Ayrton e, principalmente, já não é mais um garoto.
Seu sobrenome tem potencial para vender muitos produtos e não tenho dúvidas que a emissora oficial irá explorar bastante sua imagem para levantar a audiência da categoria que está cambaleando a muito tempo. Mas será que tamanha promoção irá se traduzir em resultados?
Acho difícil. Talvez alguns pontos em nono ou décimo e, com muita sorte, um quinto numa corrida com muitas quebras.
O que vocês acham?

Boa sorte, Rubens!



É difícil acreditar que a carreira de Barrichello na Fórmula 1 chegou ao fim. Foram 19 anos? Como passou rápido!
Na última temporada teve um péssimo carro e mesmo assim fez corridas incríveis apesar das poucas vezes que chegou aos pontos, numa clara demonstração que seus 39 anos não pesam em nada e que sua experiência só o habilita para continuar forte na principal categoria. Mas tudo acaba um dia.
Acompanho a carreira de Rubinho desde que era garoto, quando disputava os campeonatos com Christian Fittipaldi e era apenas uma jovem promessa para a Fórmula 1.
Acreditei que pudesse ser o novo campeão, torci muito por isso, chorei na sua primeira vitória. Infelizmente o campeonato não veio, mas não tenho dúvidas que Barrichello foi um dos melhores pilotos da categoria.
Teve outros momentos difíceis quando saiu da Jordan e foi resgatado por Jack Stewart ou quando a Honda fechou as portas e assumiu no último momento a vaga na sua sucessora, a Brawn. Agora o cenário é mais complicado, suas chances limitam-se ao “se” e, nesse caso, numa perspectiva ruim, caso algum piloto contratado fique impedido de pilotar, coisa que ninguém quer, nem Barrichello.
Mas o cara é jovem, competitivo e preparado, por isso tenho certeza que não deixará a chama da velocidade se apagar. Logo anunciará algum caminho que o mantenha nas pistas.
Boa sorte, Rubens.

Resenha: O Caminho da Vitória - Helio Castroneves



Sempre acreditei que experiência não está relacionada à idade, mas à intensidade que se experimenta alguma coisa. Um jovem de 14 anos é muito mais experiente do que eu em cima de um skate. Por isso não me causou estranheza ter em mãos uma espécie de biografia de Hélio Castroneves, escrito quando ainda um garoto de 35 anos.
Na obra “O caminho da vitória”, Helio narra toda a sua trajetória no automobilismo, desde a primeira volta num kart, incentivada por seu pai, um apaixonado por corridas, até suas três vitórias no histórico circuito de Indianápolis, comemoradas no alambrado, um jeito inusitado que lhe rendeu o apelido de “Homem-Aranha”.
Nesse período o piloto conta como sua carreira tornou-se um objetivo de toda a família: o carinho da irmã dedicada, a mãe religiosa e temerosa pela segurança, o pai incentivador e investidor, todos preocupados em deixá-lo focado apenas nas pistas.
O sucesso no kart, as fórmulas, a carreira direcionada para a Fórmula 1, mas que leva embora a empresa e todas as economias familiares. A falta de patrocinadores, a chance na Indy Lights, o início complicado na Indy e o controverso contrato com Emerson Fittipaldi. A oportunidade de correr pela Penske, após o acidente fatal de Greg Moore, o sucesso no programa Dance with Stars e, principalmente, o processo movido pelo governo americano acusando-o de desvio de impostos. Está tudo lá, narrado pelo ponto de vista do brasileiro que conquistou a América.
Helio Castroneves tem sido nos últimos anos o melhor piloto brasileiro com projeção internacional. Não é pouca coisa, considerando que no mesmo período temos na Fórmula 1 um outro brasileiro correndo pela Ferrari. Num dia apareceu algemado nos principais canais de notícia da TV americana e no outro venceu uma corrida, tudo num prazo de 24 horas.
Talvez o livro sirva como um instrumento para ajudar a limpar seu nome de qualquer resquício de desconfiança que possa ainda existir depois de sentença judicial que protocolou sua inocência, mas acredito que todos os fãs de automobilismo irão gostar da obra, rica em detalhes que descortinam um outro aspecto da vida de quem se arrisca por um milésimo de segundo.

Ficha técnica
Título: O Caminho da Vitória
Autor: Helio Castroneves
Assessoramento literário: Marissa Matteo
Edição: Editora Gaia
Lançamento: 2011

Resenha: Fórmula 1 - O Circo e o Sonho



Acabo de ler a edição de “Fórmula-1 - O Circo e o Sonho” de Nice Ribero, uma antiga edição do Círculo do Livro de 1990 que recebi por empréstimo de um amigo.
Trata-se basicamente das memórias vividas pela jornalista numa cobertura quixotesca das temporadas Fórmula 1 de 1986 a 1989, quando os protagonistas eram Piquet, Senna, Prost e Mansell, disputando cada curva com seus motores turbo.
A autora enfrenta todas as dificuldades para estar presente nas principais corridas da Europa, desde a falta de diploma de jornalismo que na época impedia seu vínculo nos quadros das empresas jornalísticas até todas as limitações de transporte, hospedagem e credenciamento, contando apenas com suas economias pessoais e a boa vontade dos envolvidos na categoria, oferecendo caronas e credenciais provisórias.
Assumindo um desconhecimento técnico da Fórmula 1, Nice Ribero aborda o assunto por um viés mais humano, buscando retratar as movimentações dos bastidores, com todo o glamour das recepções e jantares dos milionários e também o lado menos nobre, com o assédio das lindas mulheres que buscam conforto nos braços e bolsos de pilotos e mecânicos.
Nas entrevistas, busca depoimentos pessoais dos pilotos, tentando decifrar suas personalidades e opiniões sobre assuntos mais abrangentes e acaba por retratar os nomes do automobilismo de uma forma particular, diferente dos perfis traçados pela imprensa na época e que ainda fazem parte do imaginário dos fãs da categoria.
Nelson Piquet, por exemplo, que na época dos seus títulos foi retratado pela emissora oficial como um sujeito de temperamento difícil e avesso às abordagens jornalísticas, mostra-se para Nice como um bom vivant, afável, solidário e carismático. Senna surge como um piloto extremamente concentrado e avesso a qualquer atividade que possa distraí-lo do seu objetivo: vencer corridas. Prost é retratado como um piloto igualmente competitivo, mas preocupado com a segurança e a lealdade nas disputas. Mansell, o leão, não ruge para a autora, ao contrário, revela-se um sujeito cordial, tradicional pai de família, mas antipático aos pilotos brasileiros.
Não espere novidades e revelações importantes sobre a categoria. Apesar de começar o relato pelo campeonato de 1986, a autora dá maior destaque para o campeonato de 1988, uma temporada memorável, com a acirrada disputa de Senna e Prost e a hegemonia da McLaren com motores Honda. Infelizmente deixa de lado outras polêmicas igualmente interessantes do período, como o relacionamento entre Piquet e Mansell quando corriam pela Williams ou a mudança de Senna para a McLaren, com a ida de Piquet para a Lotus, ainda que sobre esse tema dê alguma pincelada sobre a preferência da Honda pelos pilotos brasileiros.
Nice Ribero gasta a maior parte do tempo descrevendo suas viagens, hospedando-se em lugares de todo tipo, relatando suas dificuldades com colegas jornalistas e os contratempos pela falta de apoio e de grana. Em alguns momentos adota um tom de diário feminino, com detalhes de paqueras e envolvimentos românticos, geralmente frustrados.
Mas isso não tira o valor da sua obra que pela perspectiva histórica acaba compondo um valioso documento que registra uma Fórmula 1 mais humana, quando os pilotos eram mais acessíveis, não se escondiam atrás dos assessores de imprensa e tinham liberdade para expor suas opiniões, sem as mordaças impostas pelas equipes e patrocinadores.

Ficha técnica
Título: Fórmula 1 – O Circo e o Sonho
Autora: Nice Ribero
Editora: Best Seller
Formato: 14 x 20,5 cm (capa mole) e 14 x 21 cm (capa dura)
Páginas: 208
Lançamento: janeiro de 1990