Fim de férias, sobrou a madrugada

Acabaram as férias e o tempo livre para andar de bike durante o dia. A solução é encontrar um outro horário e, para mim, a única solução foi acordar mais cedo para pedalar, vencendo a preguiça com ainda mais força de vontade.

O despertador berrou às 5h, mas a tentação da preguiça fez com que eu esperasse só mais um pouquinho e, quando dei por mim, já marcava 5h25. Vinte e cinco minutos que passaram muito rápido, literalmente num fechar e abrir de olhos. Pensei em desistir, tentando imaginar que seria possivel encontrar uma alternativa de horário, mas minha bexiga me obrigou a levantar.

Água fria no rosto para despertar, duas bananas e um copo d’água me colocaram disposto. Saí com a francesa na rua escura, garantindo o celular, cópia do documento, uns trocados e as chaves de casa em sua bolsa de quadro. Acendi as lanternas e ganhei a rua.

Logo deu pra sentir o ventinho frio da madrugada, a primeira reação foi pensar que poderia ter me agasalhado melhor, mas logo desisti com a certeza que iria esquentar bem rápido. Cheguei na ciclovia e apontei para a direção de uma subida falsamente leve, no sentido para o interior do bairro, logo cruzando com outros ciclistas a caminho do trabalho. Ao contrário do que a maioria imagina, nesse horário as pessoas que estão nas ruas são as trabalhadoras. Malandros, ladrões e assaltantes não costumam acordar tão cedo, por isso me sinto muito mais seguro.

Venci a subida e alcancei uma linda praça, mas que na escuridão perde muito do seu encanto. Um vulto num banco me alertou, mas percebi rapidamente que era um aposentado esticando as pernas num alongamento. Sigo, com um pouco mais de subida. Dessa vez não sinto as pernas queimarem e me entusiasmo, mas ao passar em frente a um batalhão de polícia, lembro que é preciso ter cautela e resolvo dar meia volta, afinal, vai que algum malandro tenha caído da cama…

Encosto, desligo a lanterna dianteira para economizar as pilhas e engato o dínamo. Descer livremente embalado pela inércia de uma bicicleta é uma das sensações mais gostosas que existe, com o vento fresco batendo por todo o corpo e aquele barulhinho gostoso da roda girando livremente. Apoiado sobre os pedais, jogando o corpo para trás para aliviar as pancadinhas na roda dianteira quando passo pelos desníveis, tenho a sensação de completo domínio sobre a bike.

Mas é preciso ter cautela e não deixar os aros 28 tão livres, pois ganham velocidade muito fácil, melhor manter os dedos nas alavancas de freio. Mais umas pedaladas num trecho plano, o movimento de pessoas aumenta, apressadas em direção aos pontos de ônibus. Olhares dos que chegaram antes do coletivo apontam para mim, penso que por causa do farol à dínamo, incomum e que desperta lembranças do passado no interior sem luz elétrica.

Mais uma descida, um pouco mais forte, com cruzamentos mais largos, ainda vazios, sem concorrência na luz verde. Galhos baixos de árvores raspam pela cabeça, mais um pouco e chega o final da ciclovia, beirando a Dutra. Melhor voltar, desengatar o dínamo, acender a lanterna e encarar a subida de volta.

Estou atrasado, mas num certo momento, durante o esforço do retorno, noto o sol no horizonte. Páro e observo.

Chego em casa, com um sorriso enorme, uma sensação de extremo prazer, me perguntando por que demorei tanto pra fazer isso.

publicado nos meus blogs: bikeurbana.wordpress.com e blogdovelhao.blogspot.com

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