Somos todos humanos!

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Acabo de conferir meu status no Facebook. Conto com 138 amigos! Muitos são pessoas realmente queridas. De outros mal ouvi falar e provavelmente não reconheceria se cruzasse numa alameda qualquer.

Dessas pessoas queridas, se usasse um único critério, procurando apontar qual delas realmente se importa comigo, sobrariam poucas, numa perspectiva positiva.

Penso que não sou o único, mas certamente sou um dos poucos corajosos a admitir isso, principalmente num mundo pautado pelos contatos pessoais, onde as pessoas precisam parecer sempre gentis, agradáveis e bem humoradas. Nessa realidade, o ostracismo na rede de relacionamentos pode ser fatal.

Mas como ter um amigo verdadeiro numa sociedade que prioriza o próprio ego? Todos querem mostrar-se na sua melhor forma, com os melhores dentes, usando máscaras que mal conseguem disfarçar nas suas rachaduras uma infelicidade profunda. Ninguém tem tempo para ouvir o outro, mas sobra disposição para mostrar fotos da última viagem de férias e checar a todo instante os comentários sobre elas.

Será considerado bom amigo aquele que se dispor a criar frases criativas e elogiosas para cada foto postada. O simpático será aquele que clicar no botão “curtir”. O que preferir continuar cuidando da própria vida, deixando de curtir a vida alheia, certamente se transformará num peso morto, um número insignificante na lista de contatos.

Colocar-se nessa rede de relacionamentos é um jogo perigoso. Um deslize, um comentário mal interpretado pode ter consequências assombrosas. Imagine um sujeito que despretensiosamente copia uma frase colhida entre tantas do Google: “O amor pode morrer na verdade, a amizade na mentira”, claro que sem citar seu autor, Abel Bonnard, pois é preciso fazer-se parecer inteligente. Pois bem. Um amigo mal intencionado pode interpretar por essa simples frase que o autor está vivendo uma crise conjugal, outro que realmente mentiu para o sujeito pode acreditar que foi descoberto e passa a criar uma rede de intrigas, ou ainda um terceiro pode entender que o “amigo” está num momento de crise e passa a disparar uma infinidade de comentários com frases cristãs para ajudar a levantar o moral do pobre coitado. As possibilidades a partir de uma única frase podem criar um novelo de confusões.

Pessoas que trabalharam felizes durante o dia vão para casa e perseguem-se virtualmente durante a noite. Chegam para trabalhar no dia seguinte sem ao menos cumprimentarem-se, com as cabeças cheias de mal entendidos.

Pior são as fofocas. Uma resposta antipática durante o trabalho, dada numa condição de pressão e de obrigação com uma determinada norma interna pode virar um motivo de uma verdadeira cruzada difamatória na rede de relacionamentos, onde o pobre coitado que não acompanha a comunidade paralela se transforma num dos piores vilões de ficção, tendo sua reputação destruída, sem direito de defesa. No dia seguinte sua caveira está feita.

Por outro lado, aquele que se importa menos com a qualidade do trabalho e mais com a política da boa amizade pode ser o primeiro a ser lembrado para uma promoção.

O que me preocupa é o peso que tem se dado a esse tipo de interação pessoal. Claro que é importante participar das redes de relacionamento, elas já fazem parte da nossa vida e são ferramentas que colaboram efetivamente nas interações pessoais e profissionais, mas é preciso lembrar que as pessoas estão muito acima das imagens e frases que publicam nesses espaços.

Facebook é uma referência, mas não pode ser a única fonte. Para formar uma opinião sobre alguém ainda é fundamental a paciência de saber ouvir e olhar o olho do outro. Todos somos humanos, seres grandiosos, mas sujeitos a pequenas falhas que podem ser corrigidas.

Como a coisa está caminhando, temo que uma vírgula mal colocada se transforme numa avalanche.

Um comentário:

Anônimo disse...

Belo texto. Bem objetivo.

Sidinei