Resenha: Fórmula 1 - O Circo e o Sonho



Acabo de ler a edição de “Fórmula-1 - O Circo e o Sonho” de Nice Ribero, uma antiga edição do Círculo do Livro de 1990 que recebi por empréstimo de um amigo.
Trata-se basicamente das memórias vividas pela jornalista numa cobertura quixotesca das temporadas Fórmula 1 de 1986 a 1989, quando os protagonistas eram Piquet, Senna, Prost e Mansell, disputando cada curva com seus motores turbo.
A autora enfrenta todas as dificuldades para estar presente nas principais corridas da Europa, desde a falta de diploma de jornalismo que na época impedia seu vínculo nos quadros das empresas jornalísticas até todas as limitações de transporte, hospedagem e credenciamento, contando apenas com suas economias pessoais e a boa vontade dos envolvidos na categoria, oferecendo caronas e credenciais provisórias.
Assumindo um desconhecimento técnico da Fórmula 1, Nice Ribero aborda o assunto por um viés mais humano, buscando retratar as movimentações dos bastidores, com todo o glamour das recepções e jantares dos milionários e também o lado menos nobre, com o assédio das lindas mulheres que buscam conforto nos braços e bolsos de pilotos e mecânicos.
Nas entrevistas, busca depoimentos pessoais dos pilotos, tentando decifrar suas personalidades e opiniões sobre assuntos mais abrangentes e acaba por retratar os nomes do automobilismo de uma forma particular, diferente dos perfis traçados pela imprensa na época e que ainda fazem parte do imaginário dos fãs da categoria.
Nelson Piquet, por exemplo, que na época dos seus títulos foi retratado pela emissora oficial como um sujeito de temperamento difícil e avesso às abordagens jornalísticas, mostra-se para Nice como um bom vivant, afável, solidário e carismático. Senna surge como um piloto extremamente concentrado e avesso a qualquer atividade que possa distraí-lo do seu objetivo: vencer corridas. Prost é retratado como um piloto igualmente competitivo, mas preocupado com a segurança e a lealdade nas disputas. Mansell, o leão, não ruge para a autora, ao contrário, revela-se um sujeito cordial, tradicional pai de família, mas antipático aos pilotos brasileiros.
Não espere novidades e revelações importantes sobre a categoria. Apesar de começar o relato pelo campeonato de 1986, a autora dá maior destaque para o campeonato de 1988, uma temporada memorável, com a acirrada disputa de Senna e Prost e a hegemonia da McLaren com motores Honda. Infelizmente deixa de lado outras polêmicas igualmente interessantes do período, como o relacionamento entre Piquet e Mansell quando corriam pela Williams ou a mudança de Senna para a McLaren, com a ida de Piquet para a Lotus, ainda que sobre esse tema dê alguma pincelada sobre a preferência da Honda pelos pilotos brasileiros.
Nice Ribero gasta a maior parte do tempo descrevendo suas viagens, hospedando-se em lugares de todo tipo, relatando suas dificuldades com colegas jornalistas e os contratempos pela falta de apoio e de grana. Em alguns momentos adota um tom de diário feminino, com detalhes de paqueras e envolvimentos românticos, geralmente frustrados.
Mas isso não tira o valor da sua obra que pela perspectiva histórica acaba compondo um valioso documento que registra uma Fórmula 1 mais humana, quando os pilotos eram mais acessíveis, não se escondiam atrás dos assessores de imprensa e tinham liberdade para expor suas opiniões, sem as mordaças impostas pelas equipes e patrocinadores.

Ficha técnica
Título: Fórmula 1 – O Circo e o Sonho
Autora: Nice Ribero
Editora: Best Seller
Formato: 14 x 20,5 cm (capa mole) e 14 x 21 cm (capa dura)
Páginas: 208
Lançamento: janeiro de 1990

2 comentários:

Unknown disse...

Prezado Autor,
Acabo de ler o seu texto e suas palavras me recordaram as palavras de Piquet quando me incentivou a "ir fundo" porque a experiência que estava diante de mim jamais se perderia.
Muito obriga por essa emoção.
Nice Ribeiro

Luciano Toriello disse...

Puxa Nice, você é quem me deixa muito feliz com o seu comentário. Estou certo que ao compartilhar sua experiência, motivou outras pessoas a buscarem novas aventuras. Abraço grande! Luciano Toriello