Do Radinho de Pilha ao MP3


Houve uma época em que todo garoto sonhava em ter um radinho de pilha. O máximo que a tecnologia da época podia oferecer, AM com som mono e uma entrada para fone de um único ouvido (claro, era mono). O luxo era ter uma capa de couro, com uma alça para ser levado para qualquer lugar. Não era muito prático e nem muito leve, mas era portátil e, mais importante, podia ser mostrado, dava status.

Os melhores eram os japoneses. Acho que os chineses, em plena época de regime autoritário, nem sonhavam em poder ter e muito menos fabricar um.

Como toda novidade tecnológica, era caro e, portanto, restrito. Mas não por muito tempo, logo o negócio foi se popularizando, com novas marcas e modelos e não demorou muito para cair no gosto e no bolso do povão.

Foi pro futebol e aí virou praga. A Rayovac deve ter ganhado muito dinheiro vendendo pilha com a estampa do Pelé na lata.

A alguns anos atrás, logo depois da liberação da Internet no Brasil, um maluco americano inventou um sistema chamado Napster, que permitia o compatilhamento de arquivos. A idéia era ótima e, apesar da banda estreita dos modems discados, fez um sucesso tremendo, com a troca dos arquivos de música no formato MP3. As gravadoras chiaram ao constatarem que seu queijo estava sendo mexido e, com os direitos autorais embaixo do suvaco, foram aos tribunais e acabaram com a farra. O Napster acabou, mas o MP3 ficou.

Nessa onda começaram a ser lançados os primeiros players de MP3. Pequenas jóias que podiam reproduzir os arquivos já com a conhecida qualidade de som, mas com preços astronômicos. Meu primeiro sonho, um Muvo da Creative, tinha incríveis 64mb, ou seja, dava pra estocar umas 18 músicas, num aparelho menor que uma caixa de fósforo. Nada que não pudesse ser alcançado com uma tonelada de parcelas.

Logo o sempre esperto Steve Jobs percebeu o filão que tava aparecendo e lançou o iPod, com o reconhecido design da Apple. Os fones brancos viraram febre, com a mesma cor dos velhos fones mono dos radinhos de pilha.

A história sempre se repete. O MP3 foi parar na banca do camelô e o foninho branco se espalhou pra tudo que é lado, vende que nem pão quente e tá no ouvido de todo mundo. O que é ótimo.

O tempo passa, mas as coisas não mudam. A não ser a China.




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