Minha amiga bicicleta

elops3
Adoro pedalar. Pelo menos adorava por toda a minha infância, adolescência e começo da fase adulta, quando um acidente me nocauteou por um tempo e o conforto do carro passou a ser uma realidade.
Minha querida Caloi 10 foi roubada, comprei outra, uma Caloi 12, que permanece guardada como nova até hoje, depois de 20 anos. Cresci. Para os lados! Fiquei incompatível com minha bike.
A alguns anos tentei voltar. Comprei uma Barra Forte usada. Era boa, mas muito pesada, sem marchas, desanimava quando pensava em encarar uma subida. Vendi para a faxineira depois do tanto que ela insistiu.
Tentei outra, uma Caloi 100, leve, toda em alumínio, com pneus largos e 21 marchas. Mas quem mede mais de 1,85m e pesa mais de 100Kg não consegue ficar confortável numa bicicleta tão pequena. Pedalando do alto do selim me sentia completamente inseguro, como se estivesse num monociclo de circo, daqueles bem altos, com o palhaço se equilibrando sobre uma pequena roda. Meu corpo se projetava para a frente, jogando o peso para os braços apoiados no guidão, fazendo doer, além do assento, os punhos.
A indústria nacional de bicicletas tem problemas. Chegaram à conclusão que é mais barato fabricar bicicletas de tamanho único, como se todo ciclista medisse 1,70m e pesasse menos de 90Kg. Bicicleta no Brasil é feita para criança ou para quem não pode pagar a condução, pelo menos essa é a visão que nos fizeram acreditar, para privilegiar a indústria automobilística. Quem quiser encarar a bicicleta como esporte poderá gastar mais com as importadas, específicas para a prática na estrada ou nas montanhas.
Pessoas comuns, acima do peso, com medidas fora do padrão devem se conformar. A solução mais fácil é desistir.
Foi o que fiz, desisti. Não gosto de fazer exercícios, detesto muito suor e dores. Caminhar é um sacrifício. Correr? Nem pensar! Natação… Não me sinto confortável num reservatório de água onde algum velhinho que faz hidroginástica deixa escapar um xixi. Além de sempre ter um engraçadinho reparando nas adiposidades alheias. Academia… Não é comigo. A idéia de ficar confinado num lugar fechado, abafado, com um monte de gente fedendo a suor chega a me dar náuseas. Me desculpem o machismo, mas também não acho legal a idéia de dividir vestiários com os “mocinhos” narcisistas admirando-se nos espelhos.
Mas é preciso ficar saudável. Não me atiro tanto sobre as besteiras, procuro manter uma alimentação adequada, com fibras, como a TV recomenda, mas não dá para virar comedor de alface de um dia para o outro. Meu problema não é a comida, mas o sedentarismo. Há anos não pratico uma atividade física regular. Preciso fazer alguma coisa, antes que a conta chegue, tão alta que eu não consiga pagar.
Há pouco fui a uma loja da Decathlon, recém inaugurada na cidade. Encontrei uma bicicleta certa para o meu tamanho, com um quadro grande, rodas aro 28, bastante robusta, equipada com todos acessórios que deveriam ser obrigatórios nas bicicletas nacionais: páralamas, buzina, cesto, farol com dínamo, refletores, luz traseira, bolsa… Um sonho. O vendedor indica que a bicicleta, Elops 3 da B’Twin, é importada da França e que tem garantia de 5 anos para o quadro e 2 anos para as peças, algo impensável até para a melhor Caloi que só é garantida por 6 meses.
O preço é salgado. Penso, volto num outro dia e resolvo experimentar, dou uma volta entre as prateleiras da loja e logo percebo que é a minha bike, precisa, confortável, com um movimento de pedal delicioso. Volto para pensar em casa, afinal, uma compra dessas precisa ser feita com consciência para que não seja mais um entulho no quintal. Resolvo, me comprometo.
Pedalei com a bike da loja até em casa. Doeu tudo, principalmente a bunda. Achei que não conseguiria sentar novamente.
Hoje, fiz o primeiro passeio oficial, senti as pernas queimando numa subida mais íngrime, mesmo com a marcha mais leve. Sofri e não desisti, fui mais longe, cheguei ao limite para não ficar quebrado no dia seguinte. Mas me diverti, muito, com o vento batendo gostoso numa descida.
Espero ter força de vontade para continuar, até que não precise mais de um selim tão macio e que as pernas peçam por uma marcha mais rápida. Quem sabe até chegar ao ponto de resgatar minha Caloi 12 da poeira e ganhar as estradas.

Um comentário:

Walkyria Bittencourt disse...

Achei seu blog por acaso e fiquei mto feliz ao saber da existência de uma bike com tais caracteísticas. Quero presentear meu marido e vou tentar encontrá-la na minha cidade. Abçs