Secos e Molhados. Que coragem!


Quem tem até 30 anos não tem muita noção do que foi viver sob o regime da ditadura no Brasil, a não ser pelos relatos dos sobreviventes ou pelos livros de história.
A minha geração, já quarentona, demorou pra respirar liberdade, nasceu sob o AI-5 e, fora um amigo ou outro que tinha o pai misteriosamente desaparecido, não dava pra ter uma noção real do que estava acontecendo. A falta de liberdade, a censura, o receio das Veraneios escuras com chapa fria, parecia tudo normal. Víamos vez ou outra cartazes de procurados ou ouvíamos termos como "preso político", estranhávamos, mas tocávamos a vida dentro da nossa normalidade.
O diretor da minha escola pública era um cara pra realmente ser temido. Exercia dupla função no estado: diretor de escola e delegado de polícia! Hoje, consciente do que foi aquilo, tenho arrepios de imaginar o que era capaz de fazer.
Pra mim era fácil ouvir os gritos no auto-falante, ordenando silêncio e civismo. Jamais pensei em me rebelar, não sabia o que era isso, queria mesmo é passar despercebido e levar boas notas pra casa, pra não chatear a minha mãe.
Dou graças a Deus por nunca ter precisado de um apoio pedagógico do sujeito.
Nesse clima todo em que a regra jamais poderia ser quebrada, achei estranho e engraçado quando vi um grupo de homens cantando com voz fina e cara pintada no programa do Silvio Santos, que na época deveria ter 100% de audência aos domingos.
Não tinha noção da coragem desses caras, ainda mais quando cantavam "Rosa de Hiroshima".



Um comentário:

Anônimo disse...

É estranho saber que vivemos uma vida dormindo, com café ou sem café!!! Adoro ler o seu blog, não falte mais com a gente, beijão grande!!!